Paisagens: capturas coextensivas
“Véus são metáforas para o enigma dos textos e da vida, escondem a aparência, excitam o desejo. Entretanto, não é a aparência, não é o véu de alguma coisa diferente de si mesmo que constitui a beleza. A beleza não é a aparência, mas certamente é a essência, aquilo que permanece verdadeiro em si mesmo por baixo do véu. Assim a aparência pode muito bem ser a ilusão, em todos os outros casos - a aparência como beleza é o véu que cobre o que é necessariamente escondido. Porque nem o véu nem o objeto por ele escondido se constituem em beleza, mas sim o objeto por trás do seu véu. Desvelado, no entanto, ele provaria ser infinitamente imperceptível. (…)”¹.
Como arquiteta e urbanista, uma das questões que mais chama a atenção em Véus é a captura de cenas cotidianas através de um olhar diferenciado e a valorização das possíveis insinuações das existências arquitetônicas, de seus rastros e restos; essas insinuações e rastros possibilitam e instigam o olhar do observador até uma sensibilidade sutil da cidade em suas inumeráveis possibilidades de interpretação.
Nas escrituras propostas pelos recortes e fragmentos das imagens da cidade, Thales revela a construção de uma textualidade que sempre se oculta ao primeiro olhar. Há, antes, uma percepção quase inacessível do desvelamento da arquitetura, mas plena de subjetivações que são coextensivas ao olhar e ao próprio ser.
Alguns diriam que sempre haverá um enigma entre o olhar artístico e a obra de arte resultante. No caso de Véus, as paisagens que nos são ofertadas são eloquentemente espécies de capturas co-extensivas. Considerando cada imagem um recorte que se revela com infinitas possibilidades de desdobramentos, penso também que a arquitetura privilegiada em Véus se desdobra, como acontece no nosso cotidiano, onde a paisagem da cidade se modifica a cada momento, quantas vezes nos propusermos a fazer a sua travessia e dirigirmos nossa atenção e sensibilidade ao nosso redor, ampliando e desdobrando as múltiplas escrituras e possibilidades narrativas.
A paisagem urbana, capturada em Véus, faz uma inversão da variante tectônica quando, ao eleger seus elementos, recortes e limites, Thales transforma a materialidade arquitetônica em um jogo de abstrações poéticas, criando as regras de um jogo onde o grande prazer está em redescobrir e cobrir; revelar e esconder; capturar e estimular que a sua obra seja, antes de tudo, coextensiva ao observador. Como um manipulador da matéria, o artista, em Véus, transforma objetos brutos em pura sensualidade.
Elisabete Reis
MSc. Teoria e História da Arquitetura
1 Livre interpretação do texto de Walter Benjamin, "Goethes Wahlverwandtschaften", Elisabete Reis e Eduardo Vasconcellos.
“Véus são metáforas para o enigma dos textos e da vida, escondem a aparência, excitam o desejo. Entretanto, não é a aparência, não é o véu de alguma coisa diferente de si mesmo que constitui a beleza. A beleza não é a aparência, mas certamente é a essência, aquilo que permanece verdadeiro em si mesmo por baixo do véu. Assim a aparência pode muito bem ser a ilusão, em todos os outros casos - a aparência como beleza é o véu que cobre o que é necessariamente escondido. Porque nem o véu nem o objeto por ele escondido se constituem em beleza, mas sim o objeto por trás do seu véu. Desvelado, no entanto, ele provaria ser infinitamente imperceptível. (…)”¹.
Como arquiteta e urbanista, uma das questões que mais chama a atenção em Véus é a captura de cenas cotidianas através de um olhar diferenciado e a valorização das possíveis insinuações das existências arquitetônicas, de seus rastros e restos; essas insinuações e rastros possibilitam e instigam o olhar do observador até uma sensibilidade sutil da cidade em suas inumeráveis possibilidades de interpretação.
Nas escrituras propostas pelos recortes e fragmentos das imagens da cidade, Thales revela a construção de uma textualidade que sempre se oculta ao primeiro olhar. Há, antes, uma percepção quase inacessível do desvelamento da arquitetura, mas plena de subjetivações que são coextensivas ao olhar e ao próprio ser.
Alguns diriam que sempre haverá um enigma entre o olhar artístico e a obra de arte resultante. No caso de Véus, as paisagens que nos são ofertadas são eloquentemente espécies de capturas co-extensivas. Considerando cada imagem um recorte que se revela com infinitas possibilidades de desdobramentos, penso também que a arquitetura privilegiada em Véus se desdobra, como acontece no nosso cotidiano, onde a paisagem da cidade se modifica a cada momento, quantas vezes nos propusermos a fazer a sua travessia e dirigirmos nossa atenção e sensibilidade ao nosso redor, ampliando e desdobrando as múltiplas escrituras e possibilidades narrativas.
A paisagem urbana, capturada em Véus, faz uma inversão da variante tectônica quando, ao eleger seus elementos, recortes e limites, Thales transforma a materialidade arquitetônica em um jogo de abstrações poéticas, criando as regras de um jogo onde o grande prazer está em redescobrir e cobrir; revelar e esconder; capturar e estimular que a sua obra seja, antes de tudo, coextensiva ao observador. Como um manipulador da matéria, o artista, em Véus, transforma objetos brutos em pura sensualidade.
Elisabete Reis
MSc. Teoria e História da Arquitetura
1 Livre interpretação do texto de Walter Benjamin, "Goethes Wahlverwandtschaften", Elisabete Reis e Eduardo Vasconcellos.