O caráter indicial da fotografia deve ser revisto. A exposição Véus, de
Thales Leite, nos desafia a observarmos imagens fotográficas que, em sua
maioria, redesenham o mesmo mote: prédios cobertos por tecidos. Thales,
como perambulante da cidade, captura e nos deixa ver as distintas
possibilidades associativas entre arquitetura e mobilidade. A
arquitetura, nas fotografias, adquire, então, um caráter escultórico,
sublimado por flâmulas, tecidos de proteção. As imagens estão prestes a
desfazer a austeridade da construção, tudo está em reforma. O lugar,
assim, potencializa afetos, incertezas, desejos. As fotos são signos que
não prosperam bem, afirmara Barthes, que “coalham como leite”.
O que era indicial na fotografia, sua marca, também está ameaçado. Nos cliques originais, Thales Leite interfere, avivando linhas, rebaixando tonalidades. Por isso, não são apenas marcas. Hoje, o traço produzido por seu referente ganha contornos de magia, prestidigitação. Este desenho toma, nas imagens de Thales, o lugar aproximado ao ornamento. O delito se completa. A cidade, então, se apresenta ainda mais utópica. A cidade dos arranha-céus que desafiara as leis da construção. Mas a grandeza já não pode sobreviver incólume. Vivemos, atualmente, uma “perversão distópica do sonho moderno de movimento livre através do espaço cosmopolita”, como afirmara Hal Foster. As fotografias de Thales Leite, seus véus, evidenciam movimentos livres. Por uma via, percebemos a utópica construção, vontade futurista. Por outra, a nostalgia pela linha orgânica da natureza, o desmanche para enxergarmos a paisagem, como queriam os vãos modernistas, os prédios suspensos em pilotis. Ainda assim, como no sudário ou no véu de Verônica, a foto é testemunha dos fatos, ancestre da representação e, por isso, não precisamos de montanhas, apenas de rastros associativos. O artista espera, atento, a mudança dos traços, a vontade dos ventos, para desmanchar as certezas e mergulhar a urbes em quimera. A fotografia de Thales Leite se constrói sobre dualidades.
Marcelo Campos
O que era indicial na fotografia, sua marca, também está ameaçado. Nos cliques originais, Thales Leite interfere, avivando linhas, rebaixando tonalidades. Por isso, não são apenas marcas. Hoje, o traço produzido por seu referente ganha contornos de magia, prestidigitação. Este desenho toma, nas imagens de Thales, o lugar aproximado ao ornamento. O delito se completa. A cidade, então, se apresenta ainda mais utópica. A cidade dos arranha-céus que desafiara as leis da construção. Mas a grandeza já não pode sobreviver incólume. Vivemos, atualmente, uma “perversão distópica do sonho moderno de movimento livre através do espaço cosmopolita”, como afirmara Hal Foster. As fotografias de Thales Leite, seus véus, evidenciam movimentos livres. Por uma via, percebemos a utópica construção, vontade futurista. Por outra, a nostalgia pela linha orgânica da natureza, o desmanche para enxergarmos a paisagem, como queriam os vãos modernistas, os prédios suspensos em pilotis. Ainda assim, como no sudário ou no véu de Verônica, a foto é testemunha dos fatos, ancestre da representação e, por isso, não precisamos de montanhas, apenas de rastros associativos. O artista espera, atento, a mudança dos traços, a vontade dos ventos, para desmanchar as certezas e mergulhar a urbes em quimera. A fotografia de Thales Leite se constrói sobre dualidades.
Marcelo Campos