O presente em contornos difusos
O transbordamento luminoso que emerge do trabalho de Thales Leite é resultado da fusão de duas tecnologias distintas: uma lente Meniscus, fabricada entre 1915 e 1926, adaptada ao corpo de uma câmera digital. Separadas por quase um século, elas são reunidas pelo artista numa pesquisa iniciada em 2006 e que agora rende sua primeira exposição individual.
Numa perspectiva histórica, o efeito proposital de suavidade na fotografia está diretamente ligado às tentativas dos primeiros fotógrafos de associarem sua linguagem às belas artes, principalmente à pintura. O Movimento Pictorialista surgido na Europa no século XIX deixou um legado de múltiplas experiências que tinham por finalidade, dotar a imagem fotográfica de uma “aura artística”. O que estava em jogo, na época, era a discussão a respeito da fotografia ser ou não ser considerada arte.
Com a discussão ultrapassada, coube ao fotógrafo contemporâneo revisitar técnicas e processos, tentando seguir adiante na busca por uma expressão individual. Nesse sentido, a série apresentada por Thales reflete bem o amadurecimento de sua pesquisa. Das primeiras imagens, da Festa de São Jorge, àquelas mais recentes, há um aprofundamento na relação do fotógrafo com sua técnica.
Enquanto nas primeiras imagens o efeito ótico de extrema luminosidade e contornos difusos é protagonista absoluto, nas seqüências do Mercatto, de Veneza e das Vistasde Paris, ele é colocado a serviço de uma visualidade mais íntima e particular. A conexão com a pintura moderna é inevitável, não apenas pela presença das cores em volumes geométricos, mas também pela atmosfera de sonho que permeia toda a mostra.
Memória e esquecimento, identidade e anonimato são conceitos antagônicos também presentes neste trabalho, marcado pela luz que ofusca e pela sombra que revela. De tempos em tempos, as poéticas contemporâneas voltam ao passado numa espécie de revisão. Neste singelo álbum de lembranças fugidias, Thales Leite assume o papel de mensageiro do tempo, trazendo de uma só vez a história, a vanguarda, o mistério e a saudade.
Paulo Duque Estrada
O transbordamento luminoso que emerge do trabalho de Thales Leite é resultado da fusão de duas tecnologias distintas: uma lente Meniscus, fabricada entre 1915 e 1926, adaptada ao corpo de uma câmera digital. Separadas por quase um século, elas são reunidas pelo artista numa pesquisa iniciada em 2006 e que agora rende sua primeira exposição individual.
Numa perspectiva histórica, o efeito proposital de suavidade na fotografia está diretamente ligado às tentativas dos primeiros fotógrafos de associarem sua linguagem às belas artes, principalmente à pintura. O Movimento Pictorialista surgido na Europa no século XIX deixou um legado de múltiplas experiências que tinham por finalidade, dotar a imagem fotográfica de uma “aura artística”. O que estava em jogo, na época, era a discussão a respeito da fotografia ser ou não ser considerada arte.
Com a discussão ultrapassada, coube ao fotógrafo contemporâneo revisitar técnicas e processos, tentando seguir adiante na busca por uma expressão individual. Nesse sentido, a série apresentada por Thales reflete bem o amadurecimento de sua pesquisa. Das primeiras imagens, da Festa de São Jorge, àquelas mais recentes, há um aprofundamento na relação do fotógrafo com sua técnica.
Enquanto nas primeiras imagens o efeito ótico de extrema luminosidade e contornos difusos é protagonista absoluto, nas seqüências do Mercatto, de Veneza e das Vistasde Paris, ele é colocado a serviço de uma visualidade mais íntima e particular. A conexão com a pintura moderna é inevitável, não apenas pela presença das cores em volumes geométricos, mas também pela atmosfera de sonho que permeia toda a mostra.
Memória e esquecimento, identidade e anonimato são conceitos antagônicos também presentes neste trabalho, marcado pela luz que ofusca e pela sombra que revela. De tempos em tempos, as poéticas contemporâneas voltam ao passado numa espécie de revisão. Neste singelo álbum de lembranças fugidias, Thales Leite assume o papel de mensageiro do tempo, trazendo de uma só vez a história, a vanguarda, o mistério e a saudade.
Paulo Duque Estrada